Porto,
A viagem foi tranquila até ao Porto. Passageiros saíram, e novos preencheram todos os lugares. João, um estudante, viu o seu lugar ocupado. Era o número 13, tinha a certeza pois já tinha verificado 5 vezes, primeiro com o bilhete, depois com o banco em que se encontrava um executivo petulante, que já tinha notado o constrangimento de João, mas nem por isso voltou a revirar as atenções da sua agenda que movia no Palm, de mês para mês, com uma “pen”. João assegurara-se que tinha pedido um lugar à janela e ia dizê-lo àquele executivo, não fosse o IPhone ter começado a tocar e André dos Reis atender com os auscultadores e microfone integrado.
O autocarro arrancou, lá fora principiava um temporal.
Santiago,
“A minha esposa sente sempre os tremores de terra antes de começar a tremer e já estava de pé antes de tudo ter começado”, conta Bruno. De facto, uma hora antes, a Sra. Serrano já se encontrava expectante, a avaliar a “força da natureza”. Quando ouviram o tilintar das loiças e avistaram os quadros cair, depressa perceberam que, esta noite, o abalo ia ser mais forte.
Porto,
Duas simples jovens amigas tinham-se sentado no banco detrás e o aristocrata tinha-as cativado antagonicamente. André dos Reis já tinha deixado a conversa fugaz ao telemóvel com a empregada doméstica que iria tratar das lides da casa ainda nem há uma hora desocupada.
Neste instante, o autocarro saía do Porto, entrava na auto-estrada e o temporal tinha-se instalado. A chuva batia com mais força contra o autocarro em velocidade e o som da chuva agora parecia-se com o som de areia projectada e a deslizar pelo tecto e janelas.
Santiago,
“Dizem que o abalo durou pouco mais de um minuto – a mim pareceu-me uma eternidade”, relata, através do chat do Skype, Luz Gomes, professora na capital do Chile.
Debaixo de uma ombreira de uma porta, Bruno e a esposa sentiram como o edifício dançava como gelatina e viam-se abrir gretas nas paredes e tecto. Sentiram um pânico que os deixou estáticos, espectadores de uma ocasião singular, de uma força da natureza tal que os sentidos encontravam-se todos vigilantes mas nenhum deles reagia do êxtase.
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