sábado, 13 de fevereiro de 2010

A REPÚBLICA É ÓPTIMA! QUEREMOS UMA

Ainda agora se iniciaram as comemorações do centenário da República e já há polémica. Há quem diga que os louvores ao 5 de Outubro de 1910 não passam de um branqueamento da 1ª República. Há quem afirme que a condenação da 1ª República não passa de branqueamento do Estado Novo. No meio disso, a 3ª República, a nossa, tenta passar despercebida, para não fazer má figura. Infelizmente, não consegue. Como organizadora desta efeméride espalha-se logo, ao começar os festejos dos 100 anos da República com a celebração de um acontecimento que teve lugar há 119 anos. Não diz muito sobre o estado do ensino na 3ª República. Nomeadamente, do ensino da matemática. Não é uma grande maneira de honrar a República que, segundo disse o 1º Ministro no seu discurso no Porto, foi um regime que deu “uma nova prioridade à escola e ao nobre ideal de educação para todos”. Bom, desde que haja igualdade e todos tenham a mesma educação defeituosa, suponho que não faça mal.

No discurso de Sócrates, ficámos ainda a saber que os valores da República são dedicação à causa pública, progresso ao serviço dos cidadãos, patriotismo democrático, humanismo universalista, igualdade, laicidade e respeito pelas diferenças, reforço dos direitos dos trabalhadores, educação, ciência e cultura como factores de emancipação pessoal e de desenvolvimento,; modernidade política, económica e social. Artur Santos Silva, presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário, acrescenta que, com a República os valores da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da igualdade e da justiça passaram a ser mais veementemente afirmados e que vieram a merecer especial consagração nas políticas públicas o combate à pobreza e à desigualdade, bem como a centralidade da instrução e da cultura como factores privilegiados do desenvolvimento humano e da promoção da igualdade. Para ele, os maiores valores republicanos são mesmo o patriotismo, o exaltado sentido de cidadania, a dedicação à causa pública, a paixão pela justiça, a procura de progresso social, a liderança pelo exemplo, o desapego dos bens materiais, os deveres morais à altura das mais firmes convicções”. Ena! Dignidade da pessoa! E logo da humana! O exaltado sentido de cidadania, em vez do apenas moderado sentido de cidadania! O progresso ao serviço dos cidadãos, em vez de ao serviço dos alguidares! Isto é tudo formidável. A República deve ser mesmo estupenda O que eu pergunto então é: o que é se passa com a nossa? E não se pode arranjá-la?

Nesses e noutros discursos já proferidos, deu para ver que os nossos políticos vão passar o ano a disputar entre si o título de “Republicano mais Republicano desta República Republicana”. Sente-se uma bazófia republicana no ar. Cada um gaba a República mais do que o outro. “Gostas da República? Pois eu gosto o dobro!”. “Ai, é? Eu gosto da República vezes infinito!”. É uma espécie de concurso juvenil, para ver quem é que usa a sua pilinha republicana para fazer xixi republicano mais longe. Palpita-me que será um concurso demorado: não só o amor destes fanfarrões republicanos parece inesgotável, como, por causa da idade, as suas bexigas republicanas precisam de ser esvaziadas mais vezes.

Apesar da admiração que ainda lhe é dedicada, diria que, há 100 anos a República entusiasmou mais. Como um brinquedo novo, acabado de receber por uma criança. Isso explica a sucessão de Presidentes e Governos em tão curto espaço de tempo: toda a gente queria brincar. Só que, lá está, como as crianças, os primeiros republicanos eram egoístas e limitaram também a quantidade de outros meninos que podiam brincar. Limitaram o voto. Já se sabe que há brinquedos que as crianças mais pequenas não têm capacidade para usar.

Entretanto, os monárquicos pretendem um referendo, para que os portugueses se pronunciem sobre o regime. Confesso que me é indiferente. Na república, o presidente é escolhido pelos homens. Na monarquia, o rei é escolhido por Deus. Provando que fez o Homem à Sua imagem, Deus enganou-se tanto a escolher reis, como os homens a escolherem presidentes.

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